Autonomia e soberania do povo camponês

Cestas agroecológicas da Rede Balaio garantem diversidade e segurança alimentar em Sergipe

Organização: CDJBC

Reportagem: Milena Ferreira e Priscila Viana

Fotos:  Samuel Carlos Pereira / Acervo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)

Em Sergipe, a união entre agroecologia e economia popular tem contribuído para levar saúde e comida de verdade às mesas de diversas famílias sergipanas, no campo e na cidade. Trata-se da Rede Balaio, uma iniciativa consolidada pela parceria entre a Cáritas Brasileira Regional Nordeste III e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). É ela que garante alternativas de comercialização para cestas agroecológicas repletas de alimentos produzidos por famílias camponesas de diversas regiões do estado, como o Baixo São Francisco, o Alto Sertão, o Sul e a Grande Aracaju. Além das comunidades camponesas sergipanas, há ainda a comercialização de itens dos nossos vizinhos, como o vinho de jabuticaba produzido na Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa (Coopcam) de Palmeira dos Índios, em Alagoas, e o café torrado da Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa da Bahia (CPC/BA). 

A Rede Balaio fortalece a agricultura camponesa, ao passo em que viabiliza na prática a autonomia do povo camponês e cria o seu próprio sistema de abastecimento popular de alimentos. Além disso, o princípio camponês da solidariedade também se efetiva a partir do balaio solidário, que durante a pandemia garantiu alimentos agroecológicos às cidades de Aracaju, Nossa Senhora da Glória e Canindé do São Francisco. É esse exemplo rico e inspirador de autonomia camponesa que vamos conhecer melhor em palavras e imagens.

As mãos que produzem são da mulher sertaneja que semeia a terra, acarinhando o solo com os manejos agroecológicos, que colhe o que produz, sustenta a família e alimenta a nação. É ela quem protege as sementes crioulas dos impactos da ação do agronegócio, um desafio necessário para garantir a autonomia camponesa. Na Rede Balaio, a participação das mulheres é fundamental para o fortalecimento da agroecologia. “Não tem como falar em agroecologia sem falar da mulher. Em todas as suas dimensões, ela envolve as mulheres nesse processo, principalmente as do campo. Desde o processo de cuidar do seu quintal, das plantas medicinais, de ir para o roçado com o marido e ter mais sensibilidade em construir esse processo de transformação dentro da agroecologia. É ela quem conduz os termos técnicos, ajuda a família a se apropriar desse conhecimento e realizar a transição agroecológica”, afirma Iva de Jesus, agricultora camponesa do Alto Sertão Sergipano.

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A diversidade da produção camponesa garante segurança alimentar em harmonia com o meio ambiente, gerando qualidade de vida para quem produz e para quem consome. Nas cestas camponesas, tem de tudo e a qualidade dos produtos é garantida: mel, cebolinha, couve, alface, tomate, salsa, macaxeira, batata doce, geleias de frutas, amendoim torrado, diversas farinhas, gergelim, café torrado, ovos caipira e de capoeira, ervas medicinais, flocão de milho, arroz branco e integral, pães caseiros, bolos, doces, queijo, entre outros. Uma diversidade só!

O cuidado com as sementes, com a terra e a saúde dos alimentos é um princípio importante entre as famílias que compõem a Rede Balaio. “O agronegócio produz muitas drogas e acaba não só com a saúde do ser humano, dos animais, como também com a saúde da nossa terra mãe. É por isso que protegemos o nosso milho crioulo, para evitar a contaminação. Cuidar das nossas sementes é importante para a saúde, não só para a minha saúde e a da minha família, mas também para a do meio ambiente e dos consumidores que compram meu produto saudável”, destaca Cida Silva, agricultora camponesa do Alto Sertão Sergipano.  

Sacolas prontas, carregadas de lutas, sonhos, saúde e preservação ambiental em forma de alimentos agroecológicos. Assim como em muitos outros lugares, a pandemia resultou em dificuldades para as famílias camponesas conseguirem escoar os seus produtos, principalmente a partir da suspensão de feiras livres. Mas as famílias camponesas sergipanas continuaram cuidando da terra e produzindo alimentos saudáveis e cuidando das sementes crioulas. Com o fortalecimento da Rede Balaio, conseguiram não só voltar a escoar seus produtos, como ampliaram mais as possibilidades de comercialização, com o auxílio do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).

Todo o processo de organização, logística e comunicação é conduzido coletivamente e em respeito à autonomia camponesa. No lugar da figura de um atravessador, são agricultoras/es e filhas/os de agricultoras/es que coletam as informações sobre as produções disponíveis, organizam os pedidos, reúnem os produtos e encaminham a logística das entregas, garantindo que os alimentos produzidos no campo cheguem até o público consumidor da cidade.

Essa fotorreportagem é uma publicação da Rede Ater Nordeste de Agroecologia e recebeu financiamento do Fida, Funarbe, UFV, IPPDS e AKSAAM.

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