O trajeto do mel no Sertão  do São Francisco

Trabalho em rede no Sertão  do São Francisco, na Bahia, ajuda a estabelecer estratégias de comercialização de produtos da agricultura familiar.

Organização: Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA)

Reportagem: Irpaa e Gabriele Roza

Fotos: Acervo IRPAA

A agricultura familiar produz a maior parte da comida que chega na mesa dos brasileiros, mas por muitas vezes, os alimentos percorrem um caminho longo. Apesar de contribuir com a segurança alimentar do país, agricultores familiares enfrentam dificuldades para comercializar sua produção. A Central de Comercialização das Cooperativas da Caatinga, constituída formalmente em 2016, com sede em Juazeiro (BA), é uma iniciativa que visa encontrar caminhos para escoar essa produção agroecológica.

A Central da Caatinga é uma articulação de organizações socioeconômicas de agricultores e agricultoras familiares do Semiárido brasileiro, que organiza a comercialização dos produtos e serviços da agricultura familiar. Os produtos são vendidos, em sua maioria, no Armazém da Central da Caatinga, localizado no centro de Juazeiro, município de aproximadamente 220 mil habitantes no Vale São-Franciscano da Bahia.

No território do Sertão do São Francisco, há uma grande produção de mel, graças ao trabalho de preservação da Caatinga feito, principalmente, pelas comunidades tradicionais. Até chegar no mercado, o mel produzido no município de Sento Sé, a 190 km de Juazeiro, percorre um longo caminho. Tudo começa no campo, na comunidade Andorinha, localizada em áreas ribeirinhas, a 18 km da sede do município de Sento Sé. O casal Eliel Ladislau,  35, e Geiza Santos, 25, cuidam com dedicação do apiário, fazendo sempre a manutenção necessária para garantir a produção de mel, mesmo em períodos de estiagem prolongada. A família integra a Associação de Apicultores de Sento Sé (AAPSSE) e, por meio dela, comercializa seus produtos na Central da Caatinga, em feiras e nos mercados institucionais, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Além do mel, o casal também comercializa farinha, tapioca e limão, além de ter uma grande diversidade de alimentos para o autoconsumo, como carne de carneiro, feijão e frutas.

”Quando a gente vende pra Central da Caatinga tem aquela questão de você levar o produto, tem que vender o produto pra depois ter retorno do real. Mas a Central valoriza nosso produto, paga um valor realmente que a gente vê que vale”, diz o apicultor Eliel Ladislau. A família exibe com orgulho o produto envasado, rotulado e com Selo do Serviço de Inspeção Estadual SIE/BA, que facilita o processo de comercialização. Com o selo, conquistado através da Associação dos Apicultores, o mel pode circular sem impedimentos por qualquer parte da Bahia. 

Até a criação AAPSSE em 2002, o mel, fonte de renda importante para muitas famílias de Sento Sé, era desvalorizado, comercializado apenas via atravessador. Com apoio do Governo do Estado, a associação estruturou a “Casa de Mel” com objetivo de beneficiar o produto, propiciando assim que uma parte das famílias da comunidade pudesse desenvolver a criação de abelhas e outras atividades. A sócia e tesoureira da AAPSSE Jaciara Ladislau relembra a dificuldade que tiveram no início do processo de comercialização do mel, hoje carro chefe da Associação.

”Até a gente ter uma casa própria para beneficiar o mel não foi tão fácil, sempre tinha comercialização, mas só pra atravessador. A partir do momento que a gente consegue a Casa, o processo de certificação de que a gente pode comercializar no estado da Bahia e também alguns selos da agricultura familiar, se torna mais fácil a comercialização, aí a gente consegue colocar já nos mercados”, explica a agricultora.

Depois de produzido e embalado, o mel viaja até Juazeiro e da loja da Central da Caatinga vai para outras regiões. Além de vender para o consumidor final, a Central comercializa a produção da agricultura familiar via PAA e PNAE.

”A estratégia que a gente está montando agora é que a gente tenha o produto de outros biomas brasileiros no nosso espaço, mas que os produtos daqui também vão para os outros outros territórios, para outros biomas brasileiros”, explica Adilson Ribeiro, diretor da Central da Caatinga. ”Vamos sair de uma loja de 400 itens de produtos para uma loja com mais de 4000 itens. É uma estratégia importante tanto para a Central como para os empreendimentos da agricultura familiar. A ideia é que a gente mostre a nossa força, a força da agricultura familiar, mostre realmente o que a gente tem e o que a gente é capaz de fazer”.

Com a diversidade de canais de comercialização, cada vez mais, os produtos da agricultura familiar têm alcançado novos consumidores. A articulação entre agricultores, organizações da sociedade civil e consumidores finais é boa para todo mundo. O processo contribui no fortalecimento da agricultura familiar e na segurança alimentar e nutricional, já que os consumidores vão ter acesso a alimentos livres de venenos, que respeitam o meio ambiente e conservam a biodiversidade local.

A organização da agricultura familiar garante alimentos saudáveis cheguem à mesa de Naira Gomes e Maria Valentina Gomes.

Essa fotorreportagem é uma publicação da Rede Ater Nordeste de Agroecologia e recebeu financiamento do Fida, Funarbe, UFV, IPPDS e AKSAAM.

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