Feira agroecológica no Riachão de Jacuípe, Bahia

Agricultoras e agricultores familiares organizam feira com produtos agroecológicos há mais de 10 anos no Riachão de Jacuípe, semiárido baiano.

Organização: Movimento de Organização Comunitária (MOC).

Reportagem: Alan Suzarte e Gabriele Roza

Fotos: Alan Suzarte

Quem vê o quintal de Jonalice de Santana, 53, na comunidade de Mandassaia, no Riachão do Jacuípe (BA), não imagina o longo caminho que a agricultora percorreu para chegar até ali. São diversas plantas cultivadas na propriedade de 6,65 ha, entre hortaliças, frutas diversas e plantas utilizadas para alimentar os animais. Desde 1985, quando Jonalice se casou com Gilson Carneiro, 60, foram muitos contratempos, períodos prolongados de estiagem, migração para São Paulo e retorno para o município baiano. Só foi em 2000, com a chegada da cisterna de consumo, que a fonte de renda do casal, já com os três filhos, passou a vir do próprio quintal.

”Os quintais de início eram a forma dos nossos antepassados de plantar do lado da nossa casa ou num cargueiro, um pé de pimentão, um pé de coentro, uma cebolinha pro nosso consumo, sabendo que era um produto natural produzido por nós”, explica a agricultora.  Com o tempo e avanço das produções no quintal agroecológico, Jonalice e família começaram a escoar o excedente de alimentos produzidos em mercados no município.

Em 2010, quando passaram a receber assessoria técnica do Movimento de Organização Comunitária (MOC) para acompanhamento aos empreendimentos de produção, a família se juntou a outras seis, também contempladas com o Programa Um Milhão de Cisternas, da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), para fundar a Feira Agroecológica e Economia Solidária Riachão do Jacuípe.

“[No início da feira] eram duas ou três barracas com três pessoas em uma barraca só, porque nós não tínhamos muita mercadoria ainda. Aí, nós passamos a dar sustentação para outras companheiras, quando uma não tinha mercadoria suficiente, todas se juntavam e motivavam umas às outras, e nós nunca deixamos ficar sem nada nas barracas”.

Em 12 anos de Feira, o município de 33.400 habitantes viu a produção de agricultores familiares crescer consideravelmente. Hoje, toda sexta-feira às 7h, no mesmo local da feira convencional do município, dez famílias se encontram para comercializar seus produtos. ”Já temos clientes certos, mas sempre aparece mais porque um vai passando pros outros. Muita gente vem conhecer o que é um produto agroecológico através dessa feira”.

A produção agroecológica é um pré-requisito de participação na feira. Antes de  um novo comerciante ser aceito, é realizado pelos feirantes mais antigos uma vistoria à propriedade do interessado. Apesar das dificuldades impostas ao processo de produção, os agricultores e agricultoras garantem a comercialização de produtos de qualidade, totalmente isentos de insumos químicos.

”Pra mim, a maior importância é a gente saber o que a gente tá utilizando, a  alimentação saudável. E outra é que podemos comercializar e tirar sustento também pra nossa família, é daí [da feira] mesmo é que temos a nossa fonte de renda. Meu marido trabalhava fora, depois do nosso quintal produtivo e da feira agroecológica, ele trabalha aqui”.

Atualmente, a feira tem uma participação majoritária de mulheres, protagonistas na condução dos processos implementados. A feira agroecológica fortalece os processos de autonomia sociopolítica e econômica das mulheres dando visibilidade aos espaços públicos de geração de renda. Líder do grupo de produção e integrante do conselho fiscal da Rede de Mulheres, Jonalice conta que apesar de não ser a norma no município, sempre existiu uma divisão justa do trabalho em sua família.

”Me casei nova, com dezesseis anos, e até hoje é o meu esposo que eu convivo. A gente sempre dividiu. Até hoje é assim e meus filhos também foram criados nessa”, conta Jonalice.

Na agroecologia, existe um reconhecimento do importante papel das mulheres nos agroecossistemas, principalmente na promoção da autonomia das mulheres rurais. As feiras acabam desenvolvendo um processo de fortalecimento das mulheres nas suas comunidades e na preservação da biodiversidade local.

A propriedade da família possui dois barreiros e uma cisterna de produção, construída em 2013 pelo Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da ASA. Essas infraestruturas são muito importantes para a família manter seus animais e garantir a produção semanal de hortaliças para abastecer sua banca na feira de Riachão do Jacuípe. A dedicação da família com as práticas agroecológicas e a existência da feira têm dado bons frutos, gerando riqueza para o município, para todos os membros da família e promovendo saúde.

Essa fotorreportagem é uma publicação da Rede Ater Nordeste de Agroecologia e recebeu financiamento do Fida, Funarbe, UFV, IPPDS e AKSAAM.

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