Durante a atividade, foram lançadas as cartas políticas da ANA e da ASA
Sistemas Alimentares, produção de alimentos saudáveis foi tema de uma das mesas da Feira Nordestina da Agricultura Familiar (Fenafes), nesta sexta (17) pela manhã. A mesa contou com a participação de Paulo Petersen, representante da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e da Rede ATER NE de Agroecologia; Neide Lima, da Rede Xique-Xique; e Antonia Ivaneide, conhecida como Neném, do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST Nacional).
Paulo Petersen inicia sua fala destacando o momento atual do país, que, de acordo com o 2o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, conduzido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), 33 milhões de pessoas estão submetidas à fome. “Na conferência do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), em 2014, havíamos saído do mapa da fome, mas estávamos vivendo uma epidemia de doenças crônicas relacionadas à má alimentação e ao consumo de ultraprocessados. A partir daí, os índices de fome foram aumentando, ao mesmo tempo em que fomos vendo os recordes de rentabilidade das empresas de alimentos”.
Paulo afirmou que nossos sistemas alimentares são orientados pela lógica do mercado. “A economia do agronegócio é comandada a partir da ótica do lucro. Até as políticas públicas voltadas para a agricultura familiar são benéficas para o agronegócio porque boa parte para o crédito financeiro, boa parte desses recursos foram destinados para compra de fertilizantes, commodities, sementes, coisas que geram dependência do agronegócio. Tudo o que conquistamos foi desconstruído rapidamente porque a lógica ultraliberal transforma tudo em mercadoria, inclusive o alimento.”.
As condições para construir novos sistemas alimentares dependem de políticas públicas que superem o racismo, o patriarcado e que considerem a alimentação como direito e não como mercadoria. “Agricultura antes de ser um negócio é cultura. Ela faz negócio mas é cultura. E cultura tem a ver com bem estar, saúde, territórios, diversidade, cultura alimentar e isso está sendo destruído. Precisamos defender outra economia, solidária, feminista, que reconhece o trabalho e nao o capital. O enfrentamento da fome não passa somente pela transferência de renda porque as pessoas pegam o recurso e vão comprar nos supermercados os ultraprocessados. Falta produzir alimentos no Brasil. O arroz que era produzido em todo o país agora deu lugar a fazendas de soja”, concluiu.
Ainda durante a mesa, Antonia Ivaneide, do MST, complementou que não há comida saudável com relações doentes, tóxicas, e às custas da exploração e da violência. Neide, da Rede Xique Xique, finalizou a mesa com a sua experiência baseada na comida para alimentar não só o corpo, mas também a alma.
ANA e ASA lançam suas Cartas Políticas – Durante a mesa, também foram lançadas as cartas políticas da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), aproveitando que os momentos eleitorais são estratégicos para discutir propostas e debater em torno de ideias. A Carta da ANA traz 5 pontos. O primeiro deles é a questão agrária e urbana, que nunca foi resolvida no país e não é possível falar em soberania alimentar sem democratizar o acesso à terra e assegurar os direitos dos povos tradicionais e indígenas. O segundo ponto é o enfrentamento da fome e promoção da soberania alimentar, em conjunto com políticas públicas de produção, fomento, financiamento e distribuição. O terceiro é o campo da ciência, da tecnologia e da democratização da comunicação e da cultura. Outro ponto trata das relações entre sociedade e estado, a participação democrática e controle social. E o último ponto traz a igualdade de gênero, raça e superação do colonialismo. A carta da ASA traz também diversas propostas para um Semiárido Vivo. Ambas as cartas foram entregues à governadora do estado do Piauí, Regina Sousa.
Texto: Luciana Rios/Sasop
Foto: Darliton Silva/Centro Sabiá