Na quarta-feira (24), dirigentes dos sindicatos rurais que fazem parte do Polo da Borborema se reuniram com a equipe técnica da AS-PTA para aprofundar a reflexão sobre a construção do conhecimento junto às comunidades e famílias agricultoras do território.
O motivo da reunião foi a apresentação da história de Araçá e de dois agroecossistemas situados na comunidade. Araçá fica no município de Arara, a oito quilômetros da sede, num ambiente com características de brejo e agreste. Arara é um dos 13 municípios de atuação do Polo.
Uma das camadas da apresentação, conduzida por Nirley Lira, da equipe da AS-PTA, foi sobre o percurso da comunidade e das famílias (um recorte da linha do tempo) e outra camada foi a partilha da metodologia do processo que tem envolvido pessoas de várias idades, majoritariamente mulheres de Araçá, desde junho de 2023 até os dias atuais.
Como a construção de conhecimento com participação ativa de quem vive no território faz parte da proposta político-metodológica do Polo e AS-PTA, este momento possibilitou um maior amadurecimento sobre o método Lume, desenvolvido pela AS-PTA e já experimentado pelo Polo.
O método Lume está sendo estudado pelas 12 organizações da sociedade civil integrantes da Rede ATER Nordeste de Agroecologia, uma delas é a AS-PTA. O estudo tem como intuito adaptar o Lume para apoiar o assessoramento técnico das famílias agricultoras em fase de transição agroecológica.
Como instrumento que favorece a construção de estratégias de inovação junto às famílias agricultoras, o Lume tem sido pautado pela Rede ATER NE, junto ao governo federal, para que seja adotado como ferramenta conceitual, política e metodológica nas políticas públicas de ATER.
“O Lume ajuda a enxergar o que antes se via, mas não se enxergava”, traduziu Ivanilson Estevão, assessor técnico da AS-PTA.
“É um método que ajuda a organizar melhor o que se apreende nas comunidades e nos agroecossistemas”, sustenta Adriana Galvão, também da AS-PTA. Além disso, esse método, pelo poder revelador que tem, “impulsiona o processo de mudança na família”, acrescenta ela.
Olhar para a comunidade ou para o agroecossistema a partir das lentes do Lume é poder observar o ambiente e sujeitos, a ação do tempo, as escolhas e estratégias adotadas, o efeito do acesso às políticas públicas e de acesso à terra, enxergar a grandeza do trabalho das mulheres e dos jovens, assim como observar a força coletiva que está presente na comunidade e nos espaços familiares, além de contemplar a economia feminista e dos comuns, que não estão inseridas na economia monetarizada.
O LUME coloca luz e organiza as informações de todos os subsistemas que existem dentro do agroecossistema em estudo e suas relações com o mercado. Sejam aquelas que geram recursos financeiros, sejam aquelas atividades que dialogam com outro tipo de economia – a dos comuns – movimentando riquezas a partir de dinâmicas de troca, doação e autoconsumo dos alimentos produzidos pelo núcleo familiar.
Voltando ao encontro, a apresentação dos ciclos de formação na comunidade Araçá trouxe à tona várias percepções dos participantes.
Elas vão desde questões relacionadas diretamente ao método Lume, mas também à necessidade de retomar com mais ênfase os estudos sobre as realidades locais. E passaram também por olhares mais específicos voltados para sujeitos, como a juventude e as mulheres.
Se ressaltou ainda a necessidade de fortalecer a estratégia metodológica das comunidades resilientes e como fortalecê-las como ambientes de organização social e ambiental para o enfrentamento à emergência climática.
“A estratégia das comunidades resilientes é um grande potencial do trabalho do Polo para enfrentamento dos gargalos encontrados para a permanência no campo e para fortalecer o sindicalismo. Além de ser um caminho concreto da construção da agroecologia nos territórios envolvendo todos os atores”, defende Adriana.
Mais um passo – Além das fases comunitária e familiar de construção do conhecimento em Araçá, mais de 20 pessoas, entre 9 e 57 anos, na maioria mulheres, estão vivenciando um terceiro momento, que consolida ainda mais a leitura deles da comunidade como um organismo vivo e pulsante.
Trata-se de uma formação em produção de vídeo a partir do celular, realizada em quatro oficinas. A primeira para reconectar os/as participantes aos fatos relatados por elas/es mesmas/os nas oficinas do Lume e para dar mais um passo nesse mergulho de reconhecimento da comunidade a qual pertencem. As demais para elaborar o roteiro do vídeo, ter noções básicas de captação de imagens e som e, por fim, aprender a editar usando aplicativos que baixam nos celulares.
As expectativas da equipe técnica da AS-PTA e das coordenadoras do Polo estão grandes para conhecer o olhar da comunidade do Araçá sobre si.