Projeto Baraúnas dos Sertões lança curso de ATER Agroecológica voltado às juventudes e agricultores/as do Semiárido brasileiro

Animação, entusiasmo, vontade de aprender e anseio por mais projetos e políticas federais que promovam oportunidades de conhecimentos para os povos do Semiárido marcaram o lançamento do Curso de Especialização e Extensão em ATER Agroecológica, Feminista e Antirracista no Semiárido Brasileiro do Projeto Baraúnas dos Sertões. O evento foi realizado na última sexta-feira (13), na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em Recife-PE. 

Bem representativa, a mesa de abertura contou com a participação da juventude, integrantes de movimentos e redes, universidades, poder público estadual e federal, que representam os setores sociais mobilizados para a construção e realização do Baraúnas dos Sertões. 

Durante a abertura, a jovem rural bolsista do projeto, Ângela Santos, falou de que forma iniciativas como essa têm mudado a sua perspectiva de vida. “A importância desse curso hoje para minha vida é muito grande, porque essa Ângela de hoje, há um tempo atrás, não existia. Porque já teve um tempo que eu não me reconhecia como jovem do campo, nem jovem territorial. Depois da Escola Família Agrícola de Sobradinho e do projeto Baraúnas, eu me reconheço na minha comunidade. Então, cada ação que eu desenvolvo, cada ação desses projetos que vão chegando, eu me sinto muito grata. Isso tem melhorado bastante e ajudado outras pessoas, porque a partir do momento que a gente participa, a gente vai multiplicando também”. 

O integrante da Rede Ater Nordeste de Agroecologia e coordenador institucional do Irpaa, Clérison Belém, aproveitou o momento para destacar a importância da sociedade civil nos processos de construção de conhecimento. 

“A gente aposta que esse apoio, essa ação é importante para esse conjunto que está aqui, mas a gente queria referenciar ao MDA, ao governo, que não se dá para apoiar iniciativas que não tenham sinergia direta com a ação junto à sociedade civil. O MDA precisa colocar isso como requisito em todos os seus apoios, dentro dos ATERs. Porque os projetos são passageiros, e esse conjunto de organizações que está aqui tem longas datas e tem uma caminhada, uma trajetória nos territórios. O Baraúnas acerta quando faz essa parceria direta com esse conjunto de organizações, Rede Ater Nordeste de Agroecologia, Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste, GT de Mulheres da ANA”, aponta Clérison.

Dialogando com essa reflexão, o diretor do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural (DATER), do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Marenilson Batista, reafirmou o ganho dos processos quando se envolve as experiências coletivas. “A gente precisa juntar todo esse povo, os GTs, as Redes de forma que a gente possa expandir, divulgar e fazer mais. Para que mais gente possa ter as tecnologias, os conhecimentos, os processos, as ações de Agroecologia, da terra, feministas, da construção do conhecimento. Queremos que isso possa atingir mais e mais agricultores. A salvação é coletiva, a agroecologia é coletiva”.

No seu momento de fala, a professora e coordenadora do projeto, Laetícia Jalil, faz uma crítica aos editais endurecidos para a contratação de organizações para executar as políticas públicas, como a de ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural). “Editais assim destroem a dinâmica dos territórios”, pontua.

O projeto Baraúnas dos Sertões, que tem o curso de especialização e extensão, como apenas uma das diversas ações, vem se mostrando como experiência exitosa construída e executada a partir da parceria entre universidades, sociedade civil organizada e poder público. 

Nesse sentido, a professora e vice-reitora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Socorro Lima, destaca: “O Baraúnas nos permitiu mudar as resoluções da universidade. Esse projeto nasce na Rede ATER NE de Agroecologia. A árvore da Baraúnas é muito simbólica, porque tem sementes que o vento leva para todos os lugares, assim como o projeto que vai disseminar o conhecimento popular e acadêmico. O Baraúnas é um grande presente que ganhamos, queria agradecer imensamente à Rede ATER e ao MDA [Ministério de Desenvolvimento Agrário] a realização deste sonho”.

A Aula Inaugural – Feito o lançamento do curso de especialização e extensão, foi realizada a aula inaugural com representantes da sociedade civil, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, uma liderança sindical, uma aluna da UFRPE e a coordenadora do curso.

Para Luciano Silveira, da AS-PTA e da Rede ATER NE, a política de assistência técnica é importante para a convivência com o Semiárido que, por sua vez, é a expressão da agroecologia na região. “A convivência com o Semiárido proporciona várias viradas de chave  que rompem com o olhar da revolução verde para o Semiárido”.

Segundo ele, essa ruptura está assentada em novos paradigmas técnico, econômico e sociológico, que se apresentam como alternativas ao modelo hegemônico de desenvolvimento.

Já Roselita Victor, liderança sindical, agricultora assentada da reforma agrária e educanda do curso, destacou o papel protagonista dos agricultores e agricultoras na construção de soluções para o Semiárido, que influenciaram várias políticas públicas como o Programa Cisternas. “Hoje estamos inventando um curso para romper os latifúndios do saber acadêmico. Queremos um diálogo de saberes”, frisou.

Uma das coordenadoras do Polo da Borborema, coletivo de sindicatos rurais que atua em 14 municípios do território da Borborema, na Paraíba, Roselita contou um breve diálogo que teve com a mãe sobre a participação dela como educanda no curso. Ao ser questionada pela mãe porque ela iria fazer, Roselita respondeu: “Vou fazer o curso que a senhora não teve a oportunidade de fazer, minha mãe”.

Ela também destacou que animou as companheiras de luta para participar do curso e aperfeiçoar a prática e conhecimentos “enquanto facilitadoras do processo de defesa do nosso território”. Roselita se referiu às investidas das indústrias de geração de energia eólica e solar que estão invadindo o território produtor de alimento agroecológico e ameaçando o modo de vida camponês. “Acreditamos que para reverter os processos de mudanças climáticas, a agroecologia é o caminho. Não há outro”.

Estrutura do programa de formação – Durante a tarde, as discussões foram voltadas aos esclarecimentos referentes ao curso, apresentação da plataforma e funcionamento dos módulos, além do balanço geral do processo de construção do projeto. Participaram deste momento representantes das organizações, mobilizadoras/es e bolsistas territoriais do Baraúnas.

O curso terá os seguintes módulos: Introdução à EAD, ATER Feminista Agroecológica, Antirracismo, Descolonialidade do Saber, Análise dos Agroecossistemas, Juventudes Rurais, Processos Criativos de Produção de Conhecimento, Relatório de Extensão ou Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

O projeto Baraúnas dos Sertões valoriza os saberes e conhecimentos locais, dando visibilidade à luta das mulheres em seus territórios. A iniciativa é realizada pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em parceria com a Rede Ater Nordeste de Agroecologia e a Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste, com apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

Texto: Lorena Simas e Verônica Pragana

Fotos: Lorena Simas

Coletivo de comunicação da Rede Ater Nordeste de Agroecologia

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